CONTOS DE UMA MENINA VICIADA EM TERBUTALINA
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Estes são contos de una menina viciada em terbutalina e de como essa menina descobriu cedo a nicotina e em sua vida uma rotina de em oculto fumar a cigarrilha. No mês de outubro foi morar com a avó na Pampulha mas sofria com a fria madrugada do pampa. Se mudou pra Uberlândia com a tia, onde já filava um maço por dia. Cigarro lhe dava barato e o barato por vezes sai caro. Numa crise - que horrível - cuspiu fora o pulmão. É a sina: asma, rinite, bronquite. todos contra o coração. Não há espaço pro amor. Terbutalina é o remédio e a superdosagem provoca aceleração. Só mais um trago ela fuma, esperando a morte lhe estender a mão. Fim. 01 Contos de uma menina viciada em terbutalina: outro dia apagou o cigarro com a mente. 02 Contos de uma menina viciada em terbutalina: quando parou de respirar se sentiu bem. 03 Contos de uma menina viciada em terbutalina: fumante obsceno. 04 Contos de uma menina viciada em terbutalina: acordou sem um pedaço do labio inferior. 05 Contos de uma menina viciada em terbutalina: escondia o cigarro sob o travesseiro. 06 Contos de uma menina viciada em terbutalina: preteria o gosto do beijo ao do cinzeiro. 07 Contos de uma menina viciada em terbutalina: tenta dormir com uma gaita atravessada na garganta. 08 Contos de uma menina viciada em terbutalina: acorda sonâmbula e caminha de pijama até a drogaria. 09 Contos de uma menina viciada em terbutalina: a arritmia acabou com sua caligrafia. 10 Contos de uma menina viciada em terbutalina: sentia inapropriado atrair-se pela química durante as crises. 11 Contos de uma menina viciada em terbutalina: sentia o gosto de tabaco na secreção de sua boca. 12 Contos de uma menina viciada em terbutalina: adquiriu com tempo o hálito acre dos sucos gástricos. 13 Contos de uma menina viciada em terbutalina: imaginando a vida num fio de fumaça. 14 Contos de uma menina viciada em terbutalina: no silêncio o chiado do peito é um grito. 15 Contos de uma menina viciada em terbutalina: nunca esteve só na companhia de um cigarro. 16 Contos de uma menina viciada em terbutalina: morreria taquicárdica, errática e descompassada. 17 Contos de uma menina viciada em terbutalina: novos prazeres e máscaras de oxigênio. 18 Contos de uma menina viciada em terbutalina: queria no pescoço a mão mordaça da asfixia. 19 Contos de uma menina viciada em terbutalina: com o remédio sentia uma dura palpitação depois do sexo. O cigarro recompõe a personagem. 20 Contos de uma menina viciada em terbutalina: a excitante aventura de manter oculto o trago. 21 Contos de uma menina viciada em terbutalina: não fazia parte e já não fazia diferença. Abstinência. 22 Contos de uma menina viciada em terbutalina: instantes que duram até chegar o filtro. 23 Contos de uma menina viciada em terbutalina: ao nível do mar não sentia a mesma alegria. Farta de oxigênio. 24 Contos de uma menina viciada em terbutalina: a chuva que se curva à baforada mística. 25 Contos de uma menina viciada em terbutalina: prometeu nunca abandonar o tabaco. Amén. 26 Contos de uma menina viciada em terbutalina: contendo a brasa na palma da mão. 27 Contos de uma menina viciada em terbutalina: voltar no tempo, destragar o cigarro ao avesso. 28 Contos de uma menina viciada em terbutalina: vítima do tempo, cigarro entre os dedos. 29 Contos de uma menina viciada em terbutalina: ...e o ar entrar rasgando como serra-elétrica. 30 Contos de uma menina viciada em terbutalina: não há espaço para o ar e a comida antes e depois do diafragma. 31 Contos de uma menina viciada em terbutalina: descobriu que seu verdadeiro talento era para esculturas de vento. 32 Contos de uma menina viciada em terbutalina: cultivava em apego sazonal as pessoas, não o cigarro. |
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