LAO

Eu bato em moscas sempre de dedos abertos. São cinco dedos para quatro vãos. E é por esses que elas sempre se vão.
Eu me concentro pelas bordas. Tenho de ter as unhas sempre cortadas, senão não sou eu quem as roe, mas o contrário: cavoco a cabeça por fora, como se assim pudera aerá-la dentro.
Eu preciso dar um passo irreversível: conseguir dar passos irreversíveis.
Eu gostaria de escrever para viver; mas escrevo melhor o que vivo; ergo, só rabisco ambos.
Eu troquei, num assomo de otimismo, o nunca diga nunca por sempre diga sempre. E fiquei pensando se tivesse dito num assombro de pessimismo...
Eu odeio quando enfiam o folclore pela cultura.
Eu raramente tenho taquicardias cardíacas.
Eu sou mais lento que meus calcanhares.
Eu, quando fumo, a fogo apago o ócio, ou afago?
Eu, quando cresci, passei a querer ser vidanauta quando crescer.
Eu tenho as extremidades do corpo não condizentes com o resto. Inclusive a mente.
Eu passei a infância numa geografia dita Depressão Periférica. Hoje já sou cosmopolita nessa área; vivo no Centro dela.
Eu imagino a palavra Patagônia como um poema de mau gosto; vejo uma marreca moribunda.
Eu sei, arrá!, que o sangue de mosca é também vermelho.