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Segunda Carta a um amigo estrangeiro
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"No entanto esse monstro, empapado de sangue de seus compatriotas, não deve ser irrestritamente apresentado a execração nos anos vindouros. Parece ser de igual verdade que amava sua pátria (...) Seu pior erro talvez não tivesse sido a ferocidade, mas sim a ignorância." Joseph Conrad, Nostromo
Antônio, Sei que faltei a nosso encontro na fonte do Hotel Nacional. Cheguei tarde - por volta da uma hora - e você já havia partido. Naquele dia pela manhã fomos até a Praça da Revolução e mais uma vez ficamos constrangidos pela situação miserável que o regime castrista impõe aos visitantes estrangeiros em seu país. Nossa conversa na noite anterior me tirou o sono e na noite do dia seguinte ainda sentia o gosto amargo pela censura auto-imposta pela população. Poucas coisas trazem mais benefício e progresso que a discussão livre e o direito de discordar, mas em cada esquina está lá uma C.D.R. e um funcionário público ou um soldado para impedir que o cubano se abra a confessar sua fadiga com o fracasso real do socialismo ilusório. Quando chegamos a cuba, em poucos minutos já nos deparamos com a felicidade habanera carente de um interlocutor paciente e compreensivo. E nós, como brasileiros, social-democratas, aliados da esquerda facista internacional, campeões do mundo do futebol, paulistanos estressados e amedrontados - não percebemos que é urgente a necessidade de falar e de ouvir do jovem cubano sonhador. Agora estamos isolados, cercados pela indulgente caridade dos europeus em seu primeiro-mundo, donos do espólio das nações pobres e ricos em filantropia farsesca. Devo te confessar Antônio que me senti mal desde os primeiros momentos em que pisei em sua terra. Da janela do avião a ilha parece uma fantasia maravilhosa de igualdade social. Da janela do taxi, percorrendo o caminho até Habana é que se vê o que se passa no nível do chão. A propaganda ideológica macissa. O bloqueio tirânico ao mundo-livre da informação. A desestruturada vida do habanero sem transporte. A insustentável queima de petróleo para gerar energia. Os automóveis cansados correndo ao lado dos modernos Peugeots e Audis dos altos funcionários e oficiais. A sedenta e destrutiva exploração dos turistas (que podem sim ser a salvação da ilha de Castro). Como Maria disse, falta de tudo para a população e ao mesmo tempo não falta nada para os turistas (aqui eu incluo a liberdade). E eu entendo como isso pode arruinar o frágil equilibro do turismo cubano, tornando amarga a recepção aos estrangeiros. Atualmente a maior fonte de renda do país é o turismo, mas a primeira continua sendo a propina dos paises pseudo-socialistas, agora a China e a Venezuela. Não será Chaves. Não serão os Chineses. Não será Che. Não serão os Americano-cubanos. Não será Fidel. Não será fácil. Não se engane meu babalaô, ninguém pode salvar Cuba que não os próprios cubanos. Carlos E. P. Macedo 13 de janeiro de 2008 |
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